A artista brasileira Paula Molinari está desenvolvendo um ciclo de miniaturas para voz solo, fundamentado nas pesquisas do Centre de Voix Roy Hart e nas práticas de Kozana Lucca. Seu projeto integra elementos das culturas indígenas e quilombolas, destacando a preservação ambiental e a valorização dos saberes tradicionais. Como artista-pesquisadora, Molinari explora as múltiplas dimensões expressivas da voz, desafiando normas de gênero. Inspirada pela visão de Alfred Wolfsohn, sua proposta concentra-se na exploração de uma voz livre de distinção entre masculino e feminino.
O ciclo de miniaturas busca capturar a essência dessa liberdade vocal, permitindo que a voz humana se expresse plenamente, sem fronteiras impostas. Essa abordagem amplia o escopo do projeto, promovendo uma reflexão crítica sobre os estereótipos vocais e a fluidez das expressões humanas.
Além da criação artística, o projeto prevê uma devolutiva social, na qual o processo criativo e seus resultados serão compartilhados com comunidades no Brasil e na França, bem como com o público em geral. O formato inclui apresentações abertas do processo criativo e, graças ao convite da Escola de Teatro da Universidade de Lisboa, a artista apresentará sua pesquisa na 9ª edição de Conversas (In)seguras, em 25 de março, no Pentagon.lx, em Lisboa, no formato de conferência-concerto.
Paula Molinari, ao defender o trabalho vocal como um caminho para contribuir para uma transição ecológica, ressalta que voz e música compartilham uma característica comum: ambas são manifestações pré-linguísticas. É na escuta do que é pré-linguístico que se refaz a dinâmica relacional, promovendo transformações nos modos de vida.
O formato de conferência-concerto desempenha um papel essencial no projeto, tornando pública a influência composicional e musical de compositores brasileiros como Sérgio Leal, Sílvio Ferraz e Francisco Silva, que escreveram obras específicas para sua voz solo.
Além disso, essa estrutura permite uma conexão direta com o conceito central do ciclo de miniaturas, que se baseia em um conjunto de experiências sensoriais que conectam voz e natureza. A artista tem explorado essas interações por meio de imersões em áreas de preservação ambiental, como o Delta das Américas e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, incorporando elementos desses ecossistemas na composição das peças vocais. Assim, a conferência-concerto não apenas revela as influências musicais do projeto, mas também evidencia sua relação intrínseca com a paisagem sonora e a ecologia.
A proposta é criar uma obra que reflita a riqueza das camadas culturais e sonoras dessas experiências, gerando impacto tanto no desenvolvimento artístico quanto no fortalecimento do diálogo intercultural. Trata-se de uma iniciativa que une arte vocal contemporânea, inovação e compromisso com o desenvolvimento sustentável. Através da arte vocal, o projeto ressignifica as experiências das comunidades envolvidas, promovendo a valorização de seus saberes tradicionais e fortalecendo sua conexão com a natureza, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e inspirando uma nova consciência ecológica.
Influenciada por artistas e pesquisadores como Kozana Lucca, Leah Barclay, Catherine Laws, Pauline Oliveros, Murray Schafer, Bernie Krause, Alvin Lucier e John Cage, Paula Molinari desenvolve composições site-specific para coro, orquestra, pista digital e improvisação livre. Sua predileção por criações colaborativas a levou a integrar Abraços (2018), um projeto de rádio-arte interativa da France Culture Radio France, envolvendo artistas do Brasil, Argentina e França.
Como cantora, dedica-se ao repertório para voz solo desde 2023. Paralelamente, conduz corais com foco nas músicas à capella, como parte do seu processo criativo. Entre 2000 e 2004, apresentou-se ao lado do violoncelista Walter Moure, explorando toda a obra de John Dowland em uma série de concertos realizados em São Paulo, Buenos Aires, Paris e Thoiras. Também participou da montagem da ópera A Flauta Mágica, de Mozart, com a Orquestra Sinfônica de Curitiba. É fundadora do Latin Theatre International Wolfsohn e Hart Voice Work, um coletivo de artistas e pesquisadores latino-americanos.
Atualmente, Paula Molinari é professora da Universidade Federal do Maranhão, atuando no Programa de Pós-Graduação Acadêmico Interdisciplinar em Dinâmicas Sociais, Conexões Artísticas e Saberes Locais e no Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Linguagens e Códigos – Música, no Centro de Ciências de São Bernardo, Maranhão, Brasil. Ela também colabora como co orientadora junto à Universidade de Lisboa (co orientação de doutorado), à Universidade Nacional de Rosário – Argentina (orientação de doutorado), à Universidade de São Paulo – USP (orientação de doutorado) e à Universidade Estadual Paulista – UNESP (pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação Musical – G-Pem).
O projeto de Paula Molinari foi vencedor da chamada 2024 do programa Ibermúsicas, na categoria “Apoio a Artistas e Pesquisadores para Residências”.
- 25 de março – Conversas (In)seguras, Pentagon.lx, Lisboa, Portugal
- 9 de abril – Teatro de Malérargues, Centre Roy Hart, Thoiras, Malérargues, França
- 5 de maio – Centro de Ciências de São Bernardo, Maranhão, Brasil