As modinhas são um gênero de canção lírica que surgiu em Portugal principalmente durante o século XVIII e parte do século XIX. São consideradas uma parte importante da tradição musical portuguesa e são conhecidas por seu caráter sentimental e melancólico, muitas vezes expresso em temas de amor não correspondido, saudade e desejo.
As modinhas têm suas raízes na música popular portuguesa, mas ao longo do tempo foram modificadas para incorporar influências da música clássica europeia, como a ópera e a opereta italianas. De fato, é possível considerar como uma hipótese confiável que as modinhas compartilham semelhanças etno-musicais com a música de salão européia, especialmente a italiana e a austro-húngara. Durante o século XVIII, a ópera italiana e o estilo galante estavam em plena expansão na Europa, e essas formas musicais chegaram a Portugal, onde foram adaptadas e popularizadas entre a aristocracia. As modinhas refletem essa influência em sua estrutura melódica e tema sentimental. No entanto, o que torna esse gênero radicalmente português é o fato de que essa tradição, ligada à música acadêmica europeia, funde-se, ao chegar a Portugal, com a música popular, tanto na sua tradição oral quanto escrita – como as canções camponesas ou as composições dos trovadores medievais. Essas formas musicais caracterizavam-se pela simplicidade e pelo foco nos mesmos temas emocionais melancólicos, assim como as modinhas, para cujo desenvolvimento contribuíram.
A modinha é frequentemente vista como precursora do fado e geralmente é executada com algum tipo de acompanhamento instrumental, que pode incluir violão, alaúde, piano ou viola. Esse gênero foi muito popular em Portugal e no Brasil, onde se misturou com outras formas musicais locais, contribuindo também para o desenvolvimento da música brasileira.
Liliana Coelho, soprano, e Isabel Calado, tecladista, dedicam-se à divulgação desse tipo de repertório português do final do século XVIII e da primeira metade do século XIX. Em particular, elas se especializaram na execução das chamadas modinhas a solo, cujo acompanhamento se limita a um instrumento de teclado.
Em particular, Coelho e Calado extraíram seu repertório de duas fontes principais:
O Jornal de Modinhas, de vários compositores (Lisboa, 1792 e 1796), e a Coleção de Modinhas de Bom Gosto, composta por J. F. Leal e publicada em Viena em 1830.
“Nosso recital, intitulado Modinhas: Canções nos Salões da Corte Portuguesa, foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia e também incluiu obras para instrumento de teclado preservadas em manuscritos da segunda metade do século XVIII na Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal”.
O apoio solicitado ao Ibermúsicas permitiu a realização de dez concertos entre março e abril de 2023 na referida cidade de Uberlândia (Minas Gerais, Brasil). No entanto, a visita dos artistas portugueses não se limitou aos concertos:
“Os recitais foram acompanhados de uma palestra na Universidade Federal de Uberlândia, seguida de uma mesa redonda na qual foram apresentados o repertório, seu contexto e as particularidades de sua interpretação. Essa sessão foi dirigida a músicos profissionais, estudantes e ao público em geral. O objetivo da mesa redonda e do debate foi compartilhar conhecimentos e experiências e criar redes duradouras baseadas na dualidade músico-pesquisador. Estávamos —e estamos— particularmente interessadas em preservar e disseminar o patrimônio cultural português e promover o intercâmbio de conhecimentos e práticas de desempenho.
Programas como o Ibermúsicas são fundamentais para a divulgação de repertórios como o das modinhas. Entre outros motivos, porque promovem o intercâmbio cultural, a preservação e a revitalização de tradições musicais históricas e sua chegada e conhecimento ao público contemporâneo.
“Graças ao apoio do Ibermúsicas, conhecemos artistas brasileiros e professores universitários da área de música, com os quais podemos construir pontes para o intercâmbio artístico e de conhecimento. A conferência foi muito importante, pois discutiu as influências europeias e africanas no desenvolvimento musical e cultural e compartilhou as diferentes perspectivas de pesquisadores e pesquisadoras brasileiros e portugueses sobre os mesmos temas, como a adequação dos sotaques portugueses em Portugal e no Brasil para esse tipo específico de repertório, ou a ampla circulação em Portugal no final do século XIX e início do século XX de partituras publicadas nas cidades do Rio de Janeiro ou São Paulo”.