Esta é uma pesquisa sobre o trabalho do músico argentino-brasileiro Ramiro Musotto (1963-2009) e sua influência na prática da música afro-brasileira no contexto de Buenos Aires, que pode ser entendida como uma circulação de formações culturais musicais específicas do Atlântico Negro. Esta pesquisa faz parte das atividades do GEMAA (Grupo de Estudios en Músicas y Artes Afrobrasileñas en Buenos Aires). Dois de seus membros (Berenice Corti e Leandro Mellid) participarão do próximo XV Congresso do Ramo Latino-Americano da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular (IASPM-AL) apresentando os resultados da primeira etapa de pesquisa.
O XV Congresso do Iaspm-AL acontecerá entre 5 e 10 de setembro na sede do Instituto de Música da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso (Chile). O evento acadêmico internacional é patrocinado pela Prefeitura de Valparaíso, através de seu Departamento de Cultura e mais especificamente pelo escritório encarregado de Valparaíso como Cidade da Música da UNESCO.
O jornal “Civilização & barbarye. La intersección de lo contrapuesto según Ramiro Musotto” será apresentada em 9 de setembro no âmbito do Simpósio 9 “Rutas musicales del Atlántico Negro en América Latina”.
Nascido em 1963 em Bahía Blanca, Argentina, Ramiro Musotto foi um percussionista e pesquisador muito importante que entre 1984 e sua morte prematura em 2009 dedicou-se a estudar, tocar, sistematizar e transmitir diferentes ritmos afro-bahianos – principalmente candomblé, capoeira e samba-reggae – assim como a produzir sua própria música baseada neles. Com formação em percussão clássica e popular, uma busca de experimentação em música eletrônica e uma prática profissional como sessionista de estúdio e sideman de palco de música instrumental, trios elétricos e música popular de massa, Musotto produziu seu próprio trabalho – dois discos e alguns vídeos – nos quais convergiram samplers e a tradição musical da Bahia, exercendo grande influência tanto sobre a cidade de Salvador, que o reconhece como uma figura chave na história musical contemporânea daquela cidade, quanto sobre os artistas que se dedicam a estas músicas na Argentina. O documento procura fazer uma primeira abordagem analítica de seu trabalho, que exerce tal influência no cenário artístico de Buenos Aires que funciona como um catalisador para a circulação de formações culturais musicais específicas do Atlântico Negro, neste caso aquelas desenvolvidas na região da Bahia (Brasil) em direção a Buenos Aires. Para isso, os pesquisadores se concentrarão em seu segundo álbum Civilização & barbarye de 2006 – cujo título alude ao trabalho fundador da literatura política argentina escrito por Domingo Faustino Sarmiento em 1845 – a fim de observar as formas musicais em que a dicotomia do título é abordada por Musotto em diferentes tópicos sônicos-discursivos: o mundo do sagrado, o político, a indústria cultural, a música mundial, a cultura popular e a relação do Brasil com a América Latina, tudo isso evidenciado sob a forma de tensões e confluências que este trabalho conceitual constrói musicalmente com grande complexidade. A abordagem integrará duas estratégias: por um lado, a análise das condições de produção deste trabalho no contexto do Atlântico Negro e, por outro, a do especificamente sonoromusical, prestando atenção tanto às suas características intradiscursivas quanto a alguns dos significados que o artista abre para seus ouvintes.
9 de setembro
https://15congresoiaspmal.cl/simposio/rutas-musicales-del-atlantico-negro-en-americalatina